ERA COMEÇO DE TARDE QUANDO O DIA COMEÇOU A ANOITECER.

NUVENS CINZAS E NEGRAS INVADIRAM O CÉU DE SÃO PAULO.

TRAZENDO APREENSÃO, MEDO.

O VENTO BALANÇAVA PLACAS, FIOS, ÁRVORES.

OS JORNAIS VOAVAM, AS LATAS ROLAVAM.

 FAZENDO UM BARULHO SINISTRO.

TODOS TINHAM A IMPRESSÃO DE JÁ TEREM VISTO O FILME.

 ERA O FAMOSO PRENÚNCIO DE UMA TRAGÉDIA.

 DE UM GRANDE DILÚVIO.

COMEÇOU A PINGAR.

O POVO CORREU PARA CASA.

INVADIU BARES, LOJAS, SUPERMERCADOS.

OS MENDIGOS E OS CÃES VOARAM PARA OS VIADUTOS.

E QUANDO TODOS AFLITOS PARALISADOS POR TROVÕES RELAMPAGOS, RAIOS. 

E PEDINDO PERDÃO PELOS PECADOS.

 JÁ ESPERAVAM PELO JUIZO FINAL.

OS PINGOS FORAM PARANDO.

AS NUVENS FORAM ANDANDO.

O VENTO FOI CANSANDO.

E ANTES QUE AQUELA TARDE, DAQUELE DIA, ANOITECESSE POR COMPLETO.

O SOL SURGIU INTEIRO, FORTE, VIGOROSO.

E COMO UM MILAGRE,

NASCEU DE NOVO PARA TODO O POVO,

A TARDE INTEIRA.

É ERA O SENHOR DE BOM HUMOR.

FAZENDO APENAS UMA BRINCADEIRA. 

 CIGARRO NOJENTO

 Cigarro nojento.

Afaste – se do meu pensamento.

Deixe – me dar uma vida digna Para o meu corpo

Que já não agüenta mais você.

Ele já não agüenta mais tossir.

Não agüenta mais andar cem metros,

E ficar cansado. Não agüenta mais ficar preocupado,

Com as noticias que vê na tv.

Nos jornais e no rádio.

Avisando de como você é maldito.

De como você é traiçoeiro.

De como você trabalha em silêncio.

Que não tem nada de amigo do peito.

Sai, sai de mim.

Assassino vicio sem fim.

Sabe por que não largo você hoje?

Sabe por quê? por quê?

Porque eu te amo seu desgraçado!

EDUARDO RAMOS